"Amén.": A Denúncia Silenciosa e a Indiferença Institucional
"Amén." centra sua narrativa em dois personagens principais: o jovem oficial da SS Kurt Gerstein, um químico que tenta alertar o Vaticano sobre o Holocausto após testemunhar o extermínio em massa de judeus, e o padre Riccardo Fontana, um jesuíta que se junta a Gerstein em sua tentativa de levar a verdade ao conhecimento do Papa Pio XII. O filme critica duramente a alegada inação do Vaticano diante das atrocidades nazistas, explorando a complexidade moral da Igreja Católica durante esse período.
A resistência em "Amén." é retratada de forma individual e frustrada. Gerstein, movido por sua consciência, busca incessantemente alertar as autoridades, enquanto o padre Fontana se junta a ele, enfrentando a burocracia e a hesitação da Igreja. O filme enfatiza a dificuldade de confrontar um sistema de poder avassalador e a dor da indiferença institucional. A resistência aqui é um grito solitário em meio ao silêncio ensurdecedor da cumplicidade ou do medo.
"Bonhoeffer, agente da graça" : A Fé Militante e o Custo do Discípulo
"Bonhoeffer, agente da graça" (lançado em alguns mercados como "Bonhoeffer: Agent of Grace") oferece um retrato biográfico do teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer, figura central da resistência cristã ao nazismo na Alemanha. O filme acompanha sua jornada desde a oposição intelectual ao regime até seu envolvimento ativo na conspiração para assassinar Hitler, culminando em sua prisão e execução.
A resistência em "Bonhoeffer, agente da graça" é apresentada como uma resposta direta e ativa da fé. Bonhoeffer, ancorado em sua teologia do "discípulo custoso", acredita que a inação diante da injustiça é uma traição ao Evangelho. Sua resistência se manifesta através de sua pregação, de seu apoio à Igreja Confessante (que se opôs ao controle nazista sobre as igrejas), e, finalmente, de seu envolvimento na resistência política. O filme explora o dilema moral de um homem de fé confrontado com a necessidade de cometer atos moralmente questionáveis (como o assassinato) para deter um mal maior, bem como o alto preço que ele e outros pagaram por sua coragem.
Qual Retrata Melhor a Resistência?
Ambos os filmes oferecem perspectivas valiosas e complementares sobre a resistência cristã ao nazismo, e a escolha de qual "retrata melhor" a resistência depende do que se busca enfatizar:
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Para um retrato da dificuldade da resistência individual diante de uma instituição hesitante e do poder esmagador do regime, "Amén." é uma obra poderosa. Ele expõe as complexidades morais e políticas enfrentadas por aqueles que tentaram alertar o mundo sobre o Holocausto a partir de dentro de instituições religiosas. A resistência aqui é marcada pela frustração e pela sensação de impotência.
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Para uma representação da resistência ativa e militante, enraizada em uma profunda convicção teológica e disposta a pagar o preço final pela oposição ao mal, "Bonhoeffer, agente da graça" oferece um retrato mais direto e inspirador. O filme mergulha na mente e no coração de um homem que acreditava que sua fé o impelia a resistir ativamente à tirania, mesmo que isso significasse desafiar as normas sociais e religiosas de seu tempo. A resistência aqui é marcada pela coragem, pelo sacrifício e pela convicção de que a inação era moralmente insustentável.
Em conclusão, "Bonhoeffer, agente da graça" provavelmente oferece um retrato mais explícito e abrangente da resistência cristã ativa e consciente, focando na jornada pessoal e teológica de um indivíduo que escolheu se opor ao nazismo com todas as suas forças, ciente das consequências. "Amén.", por outro lado, lança luz sobre as barreiras institucionais e a complexidade da resistência dentro de uma organização como a Igreja Católica, destacando a luta por fazer a verdade prevalecer em meio à indiferença e ao medo. Ambos os filmes, no entanto, são importantes para compreendermos as diversas formas de resistência que emergiram durante um dos períodos mais sombrios da história, e o papel crucial que a fé, em suas diferentes expressões, desempenhou nessa luta pela justiça e pela humanidade.
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