segunda-feira, 20 de outubro de 2025

As múltiplas faces de Maria no cinema: entre fé, dor e humanidade

 

Ao longo da história do cinema, poucas figuras bíblicas foram retratadas de forma tão diversa e simbólica quanto Maria, mãe de Jesus. Desde as produções clássicas até os dramas contemporâneos, a representação da mãe do Cristo revela tanto a evolução da linguagem cinematográfica quanto as transformações culturais e religiosas de cada época.

A figura serena do cinema clássico

Nos primeiros filmes bíblicos do século XX, Maria era retratada com uma aura quase etérea. Obras como O Rei dos Reis (1927), de Cecil B. DeMille, e A Maior História de Todos os Tempos (1965) mostravam-na como uma mulher silenciosa, símbolo de pureza e resignação. Essas interpretações reforçavam a imagem da “mãe ideal”, moldada por séculos de tradição cristã, em que a santidade se confundia com a ausência de humanidade.

Humanização e emoção nas décadas seguintes

A partir dos anos 1970 e 1980, com o avanço de abordagens mais psicológicas no cinema, Maria começou a ser retratada de forma mais humana e emocional. Em Jesus de Nazaré (1977), dirigida por Franco Zeffirelli, a atriz Olivia Hussey oferece uma interpretação marcada por ternura e sofrimento contido, humanizando a figura da mãe diante do destino trágico do filho.

Essa tendência foi aprofundada em A Paixão de Cristo (2004), de Mel Gibson, onde Maia Morgenstern interpreta uma Maria intensa, sofrida e silenciosa, que acompanha com olhar firme o martírio de Jesus. A dor materna é o fio condutor da narrativa, e a personagem ganha uma presença quase tão poderosa quanto a do próprio Cristo.

Entre o sagrado e o humano

A trajetória de Maria no cinema reflete um espelho da própria humanidade. Cada atriz, cada diretor e cada época projetam nela suas perguntas sobre fé, amor, dor e esperança. Seja como santa, mãe, mulher ou símbolo, Maria continua sendo uma das figuras mais fascinantes da história do cinema — uma presença que transcende dogmas e desperta emoção em qualquer tela.

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