sábado, 11 de outubro de 2025

Empresa veta cartazes de filme cristão em transportes públicos de Paris: polêmica sobre o princípio da laicidade


Paris, França – Cartazes do filme Sacré-Cœur, que conta a história da mística católica Margarida Maria Alacoque e sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus, foram rejeitados nas redes de transporte público de Paris pela MediaTransports, empresa responsável pela publicidade que opera para a SNCF (ferrovias) e a RATP (metrô e ônibus).

O que motivou o veto

Segundo a MediaTransports, a campanha publicitária reveste-se de caráter “confessional e proselitista”, o que, para eles, seria incompatível com o princípio da neutralidade exigido de um serviço público. 

O filme, dirigido por Steven e Sabrina J. Gunnell, retrata eventos religiosos do século XVII, centrados nas visões atribuídas a Jesus Cristo pela santa Margarida Maria Alacoque, em Paray-le-Monial, e fala sobre a difusão da devoção ao Coração Sacro de Jesus.

Reação dos produtores e críticas

Hubert de Torcy, presidente da SAJE Distribution, distribuidora do filme, expressou indignação com a decisão. Ele questiona os critérios usados: se a neutralidade pública implica aceitar todos os conteúdos ou, ao contrário, barrar manifestações explícitas do cristianismo. 

De Torcy também apontou uma aparente inconsistência: filmes que utilizam iconografia cristã ou temática religiosa — como horror ou ficção — às vezes são aceitos, enquanto Sacré-Cœur foi rechaçado de imediato.

Legalidade e contexto: laicidade na França

O veto se insere num contexto mais amplo de aplicação rigorosa das leis de laicidade na França, que impõem separação clara entre Estado e religião, especialmente no que diz respeito ao espaço público e aos serviços públicos. 

MediaTransports defendeu que campanhas de caráter religioso ou que possam ser interpretadas como prosélitas são excluídas para cumprir esse princípio.

Implicações e debate

Cultura e história vs proselitismo: Uma das principais questões levantadas é se filmes com temática religiosa devem ser automaticamente vistos como propaganda religiosa. Defensores argumentam que Sacré-Cœur trata de temas que também são parte integrante da história, cultura e patrimônio francês. 

Critérios subjetivos: O que constitui “confessional” ou “proselitista” pode variar muito, e críticos apontam que a aplicação desses critérios pode não ser uniforme. 

Liberdade de expressão: Alguns veem no veto uma limitação à liberdade cultural ou religiosa, principalmente quando o filme tem fins artísticos ou históricos, não simplesmente evangelizadores.

Precedentes: Casos similares já aconteceram na França, em que campanhas foram rejeitadas por motivos de laicidade ou neutralidade, levando a debates públicos e, em alguns casos, mudanças de decisão. 

Situação atual

O filme Sacré-Cœur estreou em 1º de outubro em mais de 150 salas de cinema na França. 
Contudo, ele não contará com a divulgação em painéis de transporte público (estações de trem, metrô, ônibus) geridos por SNCF / RATP via MediaTransports. 

Perguntas em aberto

Será que haverá recurso ou revisão da decisão por parte dos responsáveis pela publicidade pública?
Quais seriam critérios mais objetivos para distinguir entre obra cultural/religiosa e propaganda religiosa?
Como a opinião pública, governos locais e entidades culturais reagirão?

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